A televisão sempre teve uma relação complexa com as narrativas. De um lado, a TV é um meio que se adapta bem a tramas seriadas e personagens bem desenvolvidos, permitindo que o público acompanhe suas jornadas por muitos anos. Por outro lado, a TV também é um meio comercial, que luta para capturar a atenção dos espectadores e mantê-los ligados aos programas, muitas vezes apelando para reviravoltas chocantes, cliffhangers e outras distrações.
Nos últimos anos, essa tendência comercializante tem se intensificado com a popularização da cultura do crash na televisão. O crash é uma técnica narrativa que consiste em quebrar os padrões esperados de uma história, mudando repentinamente o tom, o gênero, o plot twist ou até mesmo a lógica interna da trama. O objetivo é surpreender os espectadores, mantendo-os interessados e falando sobre o programa.
Uma das principais fontes dessa cultura do crash é o TV Tropes, uma comunidade online que analisa e cataloga os clichês e convenções das narrativas da TV e do cinema. O TV Tropes tem uma lista imensa de termos técnicos, como Chekhov's Gun, Red Herring, Jump Scare e Plot Armor, que explicam as técnicas narrativas usadas pelos criadores para manipular as emoções e as expectativas dos espectadores.
O TV Tropes também é um espaço para fãs e criadores discutirem e satirizarem os excessos dessas convenções. Exemplos famosos incluem o Jumping the Shark, que descreve quando uma série de TV usa uma ideia tão absurda que perde totalmente a credibilidade, e o It Was All a Dream, que denota quando uma história é explicada como uma ilusão para justificar sua falta de coesão.
Essas convenções se tornaram tão populares que muitos criadores de programas de TV agora as utilizam conscientemente, brincando com a expectativa dos espectadores e subvertendo as tradições estabelecidas. Um exemplo recente é a série WandaVision da Disney+, que utiliza referências a sitcons clássicos e tropeços narrativos para criar uma história inesperada e emocionante.
No entanto, a cultura do crash também enfrenta críticas, principalmente por ser vista como uma forma preguiçosa e manipuladora de narrativa. Alguns argumentam que o excesso de tropeços narrativos pode fazer com que as histórias percam sua coerência e isso, por sua vez, torne a experiência de assistir TV superficial e decepcionante.
Em resumo, a cultura do crash está transformando a maneira como assistimos e falamos sobre TV. O TV Tropes desempenha um papel fundamental nessa mudança, oferecendo uma linguagem compartilhada para espectadores e criadores, e questionando as expectativas das narrativas tradicionais. Ao mesmo tempo, a cultura do crash também desafia as noções de coerência narrativa e pode levar a histórias que simplesmente não fazem sentido. Só o tempo dirá se essa tendência continuará a avançar ou se desaparecerá como um tropeço passageiro da televisão.
